Tim Maia

Existem ecos que guardaste nas gavetas, coisas diversas que foste esquecendo. No silêncio dos dias lentos, elas rangem dentro das cómodas do passado. Hesitas em verificar, em abrir essas caixas e cadernos já velhos. Ficas-te a ouvi-las com atenção, receoso do que possam dizer à luz do presente. Fazes de conta que vêm do vizinho ou lá de fora onde o mar se ergue pela janela e inunda a sala.
Pões música esperando que a contradição da inspiração e da alienação casem e se revelem na ponta dos dedos para que te obrigues a sentar e a escrever de novo. O apelo tem a vertigem da atração e da repulsa. A coragem e a covardia da poesia, o impulso e a contenção, o abandono e a disciplina.
Por momentos foste envolvido no balanço de uma canção, de uma guitarra e de uma voz, até que cessou essa vaga num verso definitivo. Diz esse verso, que beleza é sentir a natureza, na voz do Tim Maia.

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