Existem ecos que guardaste nas gavetas, coisas diversas que foste esquecendo. No silêncio dos dias lentos, elas rangem dentro das cómodas do passado. Hesitas em verificar, em abrir essas caixas e cadernos já velhos. Ficas-te a ouvi-las com atenção, receoso do que possam dizer à luz do presente. Fazes de conta que vêm do vizinho ou lá de fora onde o mar se ergue pela janela e inunda a sala.
Pões música esperando que a contradição da inspiração e da alienação casem e se revelem na ponta dos dedos para que te obrigues a sentar e a escrever de novo. O apelo tem a vertigem da atração e da repulsa. A coragem e a covardia da poesia, o impulso e a contenção, o abandono e a disciplina.
Por momentos foste envolvido no balanço de uma canção, de uma guitarra e de uma voz, até que cessou essa vaga num verso definitivo. Diz esse verso, que beleza é sentir a natureza, na voz do Tim Maia.
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