aos poucos vou-nos coando nesta minha peneira de versos
um bolero de um só sentido
do clarão do que fomos à ténue penumbra de um futuro sem ti
esbatido no mais pardo dos timbres
como um nevoeiro esfumado onde a luz se esbate até ao infinito
esta ideia de desansiar-te
na certeza de que as palavras o vento as leva
mas certo também de que se as leva não as apaga
não as despalavra
todos temos os nossos pequenos lutos
e deslutar-te de mim é um caminho que se faz numa estrada silenciosa
inimaginar-te para poder despadecer de ti
talvez procure, à força de poesia atabalhoada, desescrever-nos e destatuar-te
como se para evitar um olhar bastasse cerrar os olhos
mas não
um olhar que nos entra na alma é um feixe de luz que não se paga nunca
é um farol definitivo no mar do espírito
por isso é que é pelo olhar que reconhecemos alguém
desreconhecer-te, fazer de ti um novo rosto e um novo corpo para amar
pois ninguém desama de vez
mas isto não é sobre ti
isto é sobre mim e sobre a forma de me desinventar pela escrita
de saber que o que resta é mais que uma carcaça e do que um longo deserto sem sombras
saber que o que resta é muito mais do que apenas passado
todos estes desqualquercoisa são um lento correr de poesia
verso a verso como um bálsamo para desansiar-te
e insistir
bem lá no fundo
em desviver-te
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