Na fundação com o seu nome, criou uma casa pousada, casada, imbuída, numa torrente de lava petrificada. Fê-lo com tamanha mestria, que a casa se casa com esse rio parado, tanto à superfície com as paredes brancas, como nas bolsas subterrâneas onde aproveitou para fazer habitável o que era inóspito.
Dois detalhes de talento se me tatuaram.
Primeiro uma escada em espiral, cravada na e com a terra negra, descendo para as entranhas dessa terra, como um caracol perfeito, leve e inteligente.
E depois a janela. A imagem não faz a justiça devida a este pormenor. A queda de lava velha, vinda do topo do vulcão pela encosta abaixo, entra pela sala. A janela existe mas não existe ao mesmo tempo. Sentimo-nos no espaço. A coisa está tão bem feita que a casa parece estar lá há mais tempo que a queda de lava. O golpe de génio é esse, Manrique chegou séculos depois da erupção, mas criou algo que simula um regresso ao passado. A arte é também isso: viajar no tempo, para lá dele.
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