Douro

Uma vez mais no Douro. Na Quinta do Bomfim no Pinhão. E uma vez mais esta imensidão arrebata-me. Estamos no fim de Maio e faz um calor tal que pensar no que será isto em Agosto assusta todos os poros. Imaginar o Douro é errar por muito. Mesmo lê-lo, seja aqui neste amontoado de palavras, seja pelo acerto e beleza de um Torga, fica-se muito aquém do que a realidade dos olhos nos dá. Não se entende tamanha obra, da montanha cortada a meio por um rio, inclinada sobre esse correr de água, feita apenas de pedra, de um xisto áspero e rude, crescem vinhas. E a vinha é toda ela um poema. Estive cá em Fevereiro, vi-a nua, tolhida, metida dentro, torcida, cheia de rugas, e hoje, uma folhagem de um verde intenso já a cobre toda e pequenos projetos de cachos estendidos e tímidos pendem dos engaços. Saber que daqui a meses, depois de levarem com todo este mar de sol e de calor, as uvas vão dar vinho, é uma imagem tão absurda quanto maravilhosa. Mas isto não é um milagre, isto tem gente à volta o ano todo, gente que vou conhecendo e por quem uma admiração tão grande sinto que nem sei dizê-la direito, porque é um trabalho titânico feito à mão, por mãos iguais às minhas, às de todos, mas com uma dedicação e um saber ímpares.
Emocionamo-nos por muitas razões na nossa vida, e as que melhor nos aconchegam a alma, por também a inquietarem, são as que nos chegam por razões que desconhecemos, pois nascem no antes da alma e por aí trepam até ao sentir, sendo algo mais forte que nós, algo malgré-nous, genuíno.
 
Fevereiro
 
Maio


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