A ideia de um paraíso

A ideia de um paraíso algures. Uma praça ajardinada com pombas a debicar por entre a relva, uma súbita chuva de madrugada, uma onda mais longa na praia deserta do Outono. Relembrar as montanhas esculpidas pelo Homem e o seu louco sonho de semear sol e colhê-lo mais tarde em forma de uva ou de um outro fruto prometedor. O silêncio imenso do teu sono quando o velo ou ainda, o sentimento avassalador de te amar sem saber como ou porquê. A paz da solidão de certos momentos ou de uma partilha fraterna de sorrisos. A calmaria de um livro já lido mil vezes face ao turbilhão encarcerado de outros por ler. A ideia de um paraíso logo após as palavras e o ponto final ou a chuva miúda das reticências...

Conclusão

Passaste hoje de madruga perto de um cemitério. Viste-lhe as velas luzindo nos intervalos de negrume, campa sim, campa não. A lua no alto desenhava-se por entre as nuvens despejando brilho fosco sobre os paralelos. Pensaste nas almas repousando lado a lado no maior dos silêncios. Um silêncio que será também teu um dia.