A melancolia é um sentimento de falha, de ausência. Sofre-se ao senti-la. Não de uma dor insuportável mas antes de uma dor que insiste e se insiste. Sorte daqueles que como eu, a sentem assim de peito aberto, que a acolhem com a alma. Tanto por saberem que ela é fruto de se ter vivido um tempo por inteiro, de se ter comungado com outros totalmente, de os tornar família, como de se aperceberem que esse mesmo tempo escorreu de vez e o que nos fica é um eco de carinho. E sorte ainda mais, aos que mais tarde encontraram outro alguém que lhes dê um regaço onde se revela uma paz imensa. Tu és esse regaço. Poder eu, com o meu passado rico e pleno, descansar em ti esta nostalgia melancólica que me aperta o ser, e ter em ti um lugar de silêncio onde repousar, onde aceitar que não se volta para trás mas onde partilho a tal dor em desvanescer permanente e tranquilo, é a revelação do infinito que me és, do amor incondicional que te sinto.
Dizer-te que me rendo a ti, eu e o meu passado, que o torno teu, que to ofereço. O amor será isto, poder entregar-me também em saudade do tempo anterior a ti, ao antes de te saber, porque lá nos confins de nós mesmos, no abismo interior, sabemos ambos, que tu e eu somos fruto de algo ainda mais antigo que tudo o resto, que tudo isto. Nós, e a força toda do pronome, não temos idade, não temos princípio nem fim.
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