De quando as últimas palavras que te escrevi? Essa ideia do amor que me assombra desde sempre, desde o antes. Essa rendição total do ser. A emoção que é o teu olhar a galopar-me a alma, o arrepio silencioso de te dizer "tu" e o rebentar na boca do pronome e de tudo o que ele carrega, por dentro, por fora, por todo. Escrever-te como no tempo em que a sala com vista para o mar era o palco perfeito para a poesia, com uma quietude tal que os quadros nas paredes murmuravam ecos dos seus traços. Evocar-te pelo verbo, pelo infinito definido e preciso de te amar ali, no agora, no imediato, e sentir ao mesmo tempo que não tinha corpo nem pele que chegassem para o compreender totalmente, porque escrever-te palavras de amor era a evidência de que jamais conseguiria fazê-lo por inteiro sem sangrar de vez numa síncope total, numa implosão de mim.
No fundo, escrever-te amor, é tão intenso que mais vale uma folha em branco e o mar infindo de todas as possibilidades.
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