alguma coisa

lês uma cena de um deles
de um desses que sabem ou souberam escrever
coisa simples
limpa
batida à máquina em fundo branco que fora silêncio

e disso que lês percebes que disseram alguma coisa
e que dizer alguma coisa tem que se lhe diga

tu dize
vais dizendo
mas não sabes se é alguma coisa
porque alguma coisa que se diga não é para todos

lado lunar

Ficou esse lado lunar do Gerês a ressoar ainda hoje no silêncio dos olhos. Um rumor quieto a percorrer-te a alma, um chamamento profundo como que um convite. Hás-de aceitá-lo em breve e cumprirás um regresso.


Dos sítios

Foste a alguns sítios já mas faltam-te muitos mais. Dos sítios a que foste alguns tatuaram-se em ti. Melhor, revelaram-se em ti, como se já lá estivesses estado antes de tudo. Porque é isso, é exactamente isso, reencontrares no deslumbre de certas paisagens, um arrebatamento anterior a ti, como que um reconhecimento infinito, uma rendição total da alma e do ser. Um lugar que te escancara os olhos e a boca em espanto, não é mais que a vertigem contraditória de saberes e não saberes ao mesmo tempo, que ali pertences, que ali sempre pertenceste e que ali sempre pertencerás.

Ele ali

Por certo foram os silêncios profundos dos cafés desertos que lhe trouxeram paz. Numa mesa, mergulhada a um canto, coberta de sombras, o espírito pôde acalmar. De frente para a saída, vendo o mundo à distância pelas portas envidraçadas, sentia-se repousar. Uma cerveja morna pousada definitivamente. Uma música de fundo a pairar na poalha de luz sombria. Uma folha em branco e uma caneta. Do papel o mar mudo da ausência de palavras, na caneta todo o ruído possível condensado em tinta. E ele ali, entre a possibilidade de poesia e a mais profunda quietude da alvura da folha vazia.

prá Lira

prá Lira
o beijinho de parabéns nos intervalos
nas pausas
nos silêncios
e no mergulho da partilha que vai quase em oito anos
(e uns pozinhos pra trás, uns pós de perlimpimpim de tumulto necessário)

o beijinho neste dia daniversário
um beijo inho sí la ba a sí la ba
nas pausas
nos silêncios
nos entretantos
nos agoras e nos depoises

o beijinho inho inho em cada uma das vinte e... oito primaveras
e nas vinte e oito seguintes

o beijinho nos lábios
e nos arredores em redor em redor em redor
do teu eu inteiro

prá Lira
o beiju de paRRabénze
seguindo-a sempre.