nenhures

perguntou

agora que aqui chegámos
onde o chão termina com o último verso
nesta falésia que não acaba nem começa
neste mar que nem é silêncio nem é palavra
por onde se vai
se nem sequer há por onde ir e se até mesmo de onde se vem já não cabe

eu
sem resposta
relembrei todo o périplo que foi o passado
cada fala em todos os palcos
cada silêncio em todas as madrugadas

porque enquanto houve o que dizer e o que calar
pelo menos sabia-se que um antes e um depois se encadeavam

mas agora
que tudo já fora dito e tudo já fora calado
o que dizer ou silenciar num lugar sem lugar
num nenhures sem mapa que o indique ou conceba

talvez se invente outra poesia
uma outra forma de dizer e de calar
para que de novo haja futuro
e onde se reinvente a mentira e a verdade

rematou

talvez
pensei
talvez