polaróide

enquanto o meu café inverna definitivamente
os corvos
esses pássaros enlutados
soluçam pela manhã a preto e branco

antologia

sobra pouca coisa da tua poesia
revisitaste os cerca de seiscentos e oitenta poemas dos últimos trinta anos
voltaste a eles com a sede de sempre e saciaste-a como pudeste

estão feitos
organizados
sepultados finalmente em compêndios
já não são teus

(a prosa
essa ainda cavalga selvagem nas planícies adiadas)

o que resta de versos ou se perdeu ou não arde o suficiente para que te queime a alma

mas há o silêncio infinito do futuro por navegar
madrugadas como jangada
e palavras como naufrágio
resta-te embarcar ou fazer de conta