o acordo tácito da poesia

talvez tenhamos que rever a idade das coisas
recontar cada instante de novo
acautelar instantes que se nos tenham escapado
e fazer as contas uma vez mais

pelos vistos falta tempo ao tempo para explicar a existência de factos consumados

as palavras provavelmente são insuficientes ou limitadas
e as interpretações ganham vida própria

aliás
aviso
que cada leitura se faça por sua própria conta e risco
este é o acordo tácito da poesia

não culpem a voz nem lhe deem graças
os versos ficam órfãos a cada novo silêncio
são lobos solitários que uivam e uivam até a própria lua não caber mais no céu

em que

encerremos
cubramos com um véu ou manto
este horizonte inalcançável

deixemos que se extinga o suspiro do cansaço e do abandono

que o mar se estrele em mil sóis e bambeie num ondular sereno
e que o sono venha aos poucos e de soslaio

e que quando chegue
a memória se esfume no instante exato em que