noto que as gaivotas gostam de repousar na relva das rotundas pequenas
passo e contorno e elas lá estão
de penas viradas ao centro
alheias aos carros debicando ervas e feixes de luz
até que voam quando regressa o trânsito ou a segunda-feira
desconhecendo que não passou tempo algum entre o último verso e o primeiro
que o que brota nem sempre se manifesta em palavras lidas
que aquilo que não é revelado é tão mais imenso quanto o que acaba por surgir
nem tudo o que escrevo é para aqui chamado
nem sempre é um feriado ou um domingo de manhã
muitas vezes faz noite
e é tão densa que por muito que nela entre
fico à tona
na borda da madrugada
observando de fora
não sei se a espiando se ela me espiando a mim
queimando a insónia mesmo que dentro do sono
porque os sonhos são tão reais que queimam os olhos e a mente
o que aconteceu até agora
desde o último silêncio
foi só uma eternidade que se calou
ou que se declamou numa das muitas gavetas com cadernos que de tão cheios e inúteis mais sentido fariam se estivessem vazios e mudos
enfim
as rotundas pequenas estão vazias de novo
as gaivotas voam longe
e quem sabe
talvez te reencontres por aqui