inventei um amor
brotou de uma solidão desmesurada como um nascer de sol após a mais longa das madrugadas
dei-lhe um rosto que não se reconhece e uma forma de beijar que é volátil como o nevoeiro
inventei um amor que morre e reencarna
na ilusão de cada verso
sobretudo nos que não chegam a ser escritos
um amor que se desconhece a si mesmo e que vive entre as palavras esquecidas do que nunca se ousa dizer
inventei um amor na comoção infinita de partilhar um pedaço de alma nem que fosse com um fantasma
para que pudesse dormir acompanhado no assombro do mais melancólico dos silêncios