amanhece sempre cedo demais
e as madrugadas expiram quando finalmente são a nossa casa
o êxodo dos animais noctívagos
expatriados da noite lançados às auroras inevitáveis da vida
e como vampiros padecem aos primeiros raios de sol, esfumando-se em vultos das rotinas, de volta aos grilhões da existência
só os luares mais negros lhes devolvem liberdade
eles sabem que há que olhar o mar como quem olha um poço
e perder-se nessa queda, despenhar-se na vertigem de um assombro
como no amor
como na desilusão
como na esperança amarga de um escape
existe algures um lugar onde a noite se prolonga até ao infinito
onde as promessas são promessas para sempre
onde distância entre os lábios não se altera, ficando ali no trémulo instante entre o beijo e sua intenção