dia vazio


deixou passar o dia
nidificou-se no sofá com o deslizar das horas nas brisas silenciosas da preguiça
criou raízes profundas e os olhos em periscópio seguiam a luz fatiada pela persiana numa dança perfeita com as poeiras do tempo que somente cronos sabe coreografar
despertou de noite, desenraizou-se e levou o corpo para uma madruga densa de breu e nevoeiro
saciou a fome de uma ressaca e de um dia vazio
vasculhou esquinas e beijou os lábios da aurora aveludada
ao regressar a casa, sobre o mesmo sofá, os contornos exatos da silhueta que fora momentos antes, breve fóssil de um dia já passado e vencido e irrecuperável