Pelas traseiras entrava o mar, quer em luz infinita de verão quer em negrume de inverno com rajadas de chuva e vento.
Pela frente era um outro silêncio a roçar a porta. E no quarto de cima, o dos avós, a quietude era tal que apenas o tempo o parecia habitar. Havia uma sombra do lado de fora da janela. Uma árvore. Essa árvore foi sendo várias árvores ao longo dos anos, substituída à medida que as raízes se tornavam demasiado profundas. Dizem que minha avó chorava cada vez que a removiam para lá meter uma mais nova, mais franzina. Na rua havia uma garagem cuja moldura foi baliza de futebol durante gerações. E a árvore subia até à janela onde a avó espreitava quem passava.
Foi há séculos. Foi ontem. Será para sempre.