a poesia é a queda de uma pena
lenta e suave na descida até ao chão
esburacando-o com estrondo
como se de um piano lançado do décimo andar se tratasse
a pena
do ler
Uma ilha escura dizem. Levo os meus olhos para confirmar. Daqui a uns dias, a sul, rodeado de mar, pisando um chão lunar. Sonho com coisas assim desde sempre. Ou pelo menos desde que leio. A todos os sítios que fui, posso dizer que a leitura e a sua ressaca de imaginação, já lá me tinham levado. E se é certo que nada substitui o ver para crer, todo o solo que pisei e paisagem onde olhos derramei, mais mágicos se tornaram porque já a minha alma desbravara esses territórios através das palavras.
desescrever-te II
e depois de te desescrever
de descrescer todas as palavras que por ti semeei
des-sonhar-te também
deslembrar-te até ao mais recôndito de uma lembrança nossa
não é esquecer-te
isso é uma impossibilidade
falo de regressar a um passado que não existiu
um passado depois de nós sem que o nós se pudesse reconhecer
mais do que deixar de te sentir
seria uma forma de nos viver uma vez mais
mas ao revés
de pernas para os ares
tudo isto é mais uma declaração de amor
imaginar
ou desimaginar-te de uma só vez
até ao local
ao momento
ao gesto primeiro do nosso amor
provar essa infelicidade de um antes de nós
sei
sei bem que o escrevi antes
mas tudo isto é
como já o disse
uma declaração de amor
des-sonhar-te para que o meu sono seja um silêncio final de nós
para apenas
uma vez mais
chegar o teu deslumbre total
e arrebatar-me até aos versos loucos que escrevo
amar-te tanto
que pensar ao contrário é também uma forma de te amar
não sei
falta-me o jeito
a arte
a sorte na álgebra das palavras existentes para que elas se encadeiem como deveriam
ou então
o mais provável
é não existirem as palavras certas para esta missão insana
que é desescrever-te de novo
de descrescer todas as palavras que por ti semeei
des-sonhar-te também
deslembrar-te até ao mais recôndito de uma lembrança nossa
não é esquecer-te
isso é uma impossibilidade
falo de regressar a um passado que não existiu
um passado depois de nós sem que o nós se pudesse reconhecer
mais do que deixar de te sentir
seria uma forma de nos viver uma vez mais
mas ao revés
de pernas para os ares
tudo isto é mais uma declaração de amor
imaginar
ou desimaginar-te de uma só vez
até ao local
ao momento
ao gesto primeiro do nosso amor
provar essa infelicidade de um antes de nós
sei
sei bem que o escrevi antes
mas tudo isto é
como já o disse
uma declaração de amor
des-sonhar-te para que o meu sono seja um silêncio final de nós
para apenas
uma vez mais
chegar o teu deslumbre total
e arrebatar-me até aos versos loucos que escrevo
amar-te tanto
que pensar ao contrário é também uma forma de te amar
não sei
falta-me o jeito
a arte
a sorte na álgebra das palavras existentes para que elas se encadeiem como deveriam
ou então
o mais provável
é não existirem as palavras certas para esta missão insana
que é desescrever-te de novo
desescrever-te
desescrever-te
isso mesmo, desescrever-te
recuar ao silêncio antes de nós
desfazendo todos os versos que fui rasgando
desbrilhar-te da minha alma até à escuridão primordial de mim
despir-te
desalmar-te
chegar ao tutano do amor
ao húmus inicial de tudo isto
e encontrar aí o antes da felicidade que me és
isso mesmo, desescrever-te
recuar ao silêncio antes de nós
desfazendo todos os versos que fui rasgando
desbrilhar-te da minha alma até à escuridão primordial de mim
despir-te
desalmar-te
chegar ao tutano do amor
ao húmus inicial de tudo isto
e encontrar aí o antes da felicidade que me és
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