A beleza absoluta, disse Torga sobre o Douro. E disse tudo, da melhor forma possível claro, como só ele sabia. A beleza é muito mais que o ser bonito, é o que está antes na sua raiz e o que está para além. No Douro, o antes é a génese do que a paisagem avassaladora revela. É mais do que a montanha e mais que o rio que ao meio a corta. É a ideia louca de se ter ousado sonhar em plantar uma vinha nesse lugar irreal e de para isso se ter esculpido em suor e sangue todos esses montes, desenhando-os contra o xisto, as urzes e a gravidade. E desse sonho se ter tornado real e do solo brotarem então vinhas e, entre elas e o Homem um pacto de sofrimento mútuo através dos séculos se ter gerado. Gente e planta a trabalharem para lá dos seus limites e desse esforço sair um vinho, que de tanto trabalho, de tanto sacrifício e entrega só podia ser generoso.