geometria do quarto de hotel

Leu em livros e viu em filmes aqueles cenários de quartos de hotel arrumadinhos e asseados. Uma cama, uma cadeira, uma televisão, um telefone, um quarto-de-banho sempre perfeito, uma secretária e uma janela com cortinas claras. Quando leu esses livros e viu esses filmes descobriu que tinha o sonho de viver num sítio desses. Ou melhor, descobriu que ficaria feliz com uma vida passada em hoteis assim, de cidade em cidade, levando apenas uma mala com o indispensável e uma pasta a fazer de escritor. A vida regulada por um bed and breakfast, por percursos citadinos sempre novos e regressos ao mesmo quarto ao fim da tarde para um duche reparador e umas horas de escrita ou televisão sobre a cama sempre impecavelmente feita. Depois sairia para jantar, à noite mais palavras ou mais telvisão e um sono limpo na geometria equilibrada do quarto de hotel.
.

O atraso

Eu sei, eu sei. Ainda estou em falta sobre o relatório da minha festa de aniversário. Tenho os presentes a apresentar, fotografias a partilhar e agradecimentos mais personalizados a endereçar. Mas os atrasos são seres exponenciais, tendem a engordar disparatadamente se não lhes aplicar a dieta de os pôr em dia.
Tenho variados "atrasos", um deles com a minha suposta literatura. Não escrevo nada de substancial há já bastante tempo, e pior, o que tenho escrito, embora não seja insatisfatório, é, ainda assim, descomprometido. Não há aquele compromisso com as palavras que no passado se inscrevia naturalmente. Sofrerei daquele mal dos artistas do Blues, se estão felizes e serenos, são incapazes de criar ou recriar a sua arte. Precisam de dramas, de tempestades do espírito.
.

ainda no sono

Ainda no sono o vulto dela. O rosto e o corpo morno envolto de um qualquer casaco branco inclinou-se e beijou-me. Partiu para a manhã. Fiquei com a poeira da preguiça, aquela com que se constroem os castelos dos sonhos.
.

Inventariação

Muito para pôr em dia:

As emoções do aniversário, as prendas recebidas (algumas pérolas), as leituras (Al Berto, sempre e ainda), algumas fotografias e pensamentos gerais sobre o sentido da vida, física quântica, metafísica, álgebra e a Sophie Marceau.
.

Lira

Os astrónomos calculam que daqui a 11.000 anos, a constelação de Lira e a sua principal estrela, Vega, será a nossa estrela polar, aquela que indicará o Norte. O meu privilégio é ter esse avanço de 11.000 anos sobre o resto da humanidade, Lira já é a que me indica o Norte, o caminho, a salvação.
.

Rendido

Um obrigado grande a todos os que por presença, mensagem, sinais de fumo, telepatia, telefone, pombo correio, bruxaria e outros meios de comunicação, até mim chegaram. Rendido a todos vós para todo e o eterno sempre.
.

Bullying 2

Um pormenor importante e que se calhar escapa a alguns professores (logo eu que tenho muitos amigos que o são):

os tais valores que se perderam em Casa e na Rua, perderam-se também na casa e na rua dos professores. A Casa e a Rua não são só dos pais dos alunos, dos alunos, dos políticos, dos mineiros, dos desempregados, dos sindicalistas, dos estilistas, das prostitutas, dos chulos, dos imigrantes, dos benfiquistas, dos comentadores, dos bloggers e dos palhaços de circo.
Digo isto não pela profissão de professor, mas pela pessoa que o professor é. Não se trata das dificuldades da actividade (enormes hoje em dia) mas da dificuldade de ser-se cidadão, que é o que está na base dos problemas, e isso, passa pelos cidadãos que também são professores.
.

Bullying

Chamar as coisas pelos nomes é uma necessidade humana. O problema está quando a coisa não se presta a nomes (várias razões poderão estar na origem desse problema, um dos quais, é essa coisa já ter nome ou não existir). Vai-se a outras línguas ou inventa-se.

Violentar, aterrorizar, humilhar, torturar, já são verbos concretos, mas há fenómenos que acarretam algo mais e a dificuldade de nomear esse "algo mais" é que inquina. Ou então, não é um fenómeno mas antes uma série de casos diferentes que aparentam ter algo em comum.

Opta-se então por pedir a estudiosos que nomeiem esse "algo mais", e mergulhamos na sociologia e psicologia. Depois desse "estudo" mete-se os políticos ao barulho e decreta-se contra o que foi finalmente nomeado. Mas os decretos não valem por si só e valem ainda menos se são decretos contra algo que não existe (o fenómeno e não os casos específicos, esses bem reais).

No fundo o que quero dizer, é que me parece, que isto agora do bullying é o escape do momento para fugir aos problemas reais da Escola. A mediatização de certos casos ajuda a isso mesmo. A Escola perdeu valores e códigos de conduta na exacta medida em que esses valores e códigos se perderam em Casa e na Rua.
Algures, após a conquista do bem maior da Liberdade e o dia de hoje, perdeu-se uma certa forma de respeito. A tolerância é bem mais difícil de praticar do que o seu contrário, o sentido de comunidade é mais complexo que o ajuntamento tribal momentâneo, ou o individualismo consciente bem mais difícil do que o egoísmo primário.

Mais funcionários (agora têm outro nome), mais pedo-psiquiatras, mais decretos, mais condenações (agora qualquer porrada na escola vai ter este nome, vai ser uma maravilha castigar os alunos difíceis, mesmo se não praticam nada que se pareça ao bullying), mais vitimizações (o ridículo discurso "são todos vítimas, agredidos e agressores), mais professores de baixa, etc, etc.

Belo futuro nos aguarda sim senhor.
.

Simon and Garfunkel

Um dos álbuns da minha vida.


Many rivers to cross

escrever nada

Se no passado se agarrava aos cenários onde vivia pequenas tragédias, hoje vive-as sem palco. Aliás, as tragédias (que também já não o eram de verdade) são hoje umas amostras de dramas sem grande importância. O escape pela literatura já não se justifica, pois se sem tragédias e sem palco não se escrevem nem poemas, nem novelas, nem histórias. Confrontando-se com isto decidiu escrever nada.
.

O erro de Alice

Fui ver o filme "Alice no País das Maravilhas" do Burton. Não gostei. Nem emotiva nem visualmente. Achei o filme neutro. Longe dos adultos, quando o mundo de Alice, os seus símbolos e a ligação de Burton a este universo, permitiriam um "mergulho" profundo em certos temas. Sendo um filme infantilizado, achei-o vazio das emoções que a esse mundo dizem respeito. Previsível e desprovido de tensão e até mesmo do imaginário, passei o filme sem um sobressalto ou reacção. Visualmente a animação não me convenceu (a Fábrica de Chocolate ou Big Fish, por exemplo, vão muito mais longe) e o 3D não me entusiasmou (aí posso culpar talvez o meu astigmatismo).
Uma desilusão portanto.
Nas críticas que leio, sejam profissionais ou de amigos, vejo, no entanto, que o filme agradou. Temo que seja por uma certa subserviência em relação a Burton. É sem dúvida um bom realizador, que arrisca nos seus projectos, mas é ainda assim humano, logo, sujeito a errar. Esta Alice foi um erro.
.

Oscars

Premiou-se Kathryn Bygelow, calhou bem por ser dia internacional da mulher. O que eu não sabia, é que esta senhora realizou um filme há uns anos chamado Point Break, em que Keanu Reaves e Patryck Swayze brincavam aos polícias e ladrões e surfistas. Um filme porreiro com acção e os Red Hot Chili Peppers a fazer de mauzões. Mas o melhor desse filme era a protagonista feminina, Lori Petty.
Apaixonei-me pois. E como não? Aqueles olhos, aquele cabelinho curto...

Para memória futura 5

Houve uma altura na minha adolescência em que nasceu em mim a mania da poesia e da escrita. Era naquela altura em que me apaixonava com facilidade ao ponto de escrever versos, músicas e textos. Foi também por essa altura em que a consciênca do valor da amizade se cimentou e que um certo escape pela fantasia da escrita permitia-me ser uma espécie de herói. Criei então uma mitologia. O processo era simples: virar os nomes dos amigos e amigas ao contrário (nomes ou apelidos) e inventar histórias. Eu era Epilif, guerreiro, e nesse mundo viviam outros heróis e heroínas, a saber: Etafalac, Solrac, Oãoj, Adnaias, Seni, Anaoj, Aseret, Odranreb e muitos mais. Todos estes nomes tinham a sonoridade ou de Epopeias ou Sagas ou de Contos de Fadas. Perdi esses textos algures, guardo-lhes a lembrança e delicioso som.
.

NORMAlidade

Amanhã regressa o dia internacional do homem, durará 365 dias, até ao próximo dia 8 de Março.
.

Hoje é dia internacional da mulher

Eis, pois, uma mulher inTERNAcional.

A (minha) natureza

Provavelmente o que espantaria mais aqueles que me conhecem, seria eu cair numa certa forma de lamento ou pessimismo. Ou melhor, seria, eventualmente lamentando-me, chegar a uma conclusão de "desorgulho" e de desalento vazio. Não sei dizer de outra maneira.
A chuva destes dias (que nem é chuva típica daqui nem da Bélgica, onde eu conseguia desencatar um qualquer sentimento poético), o Porto longe do título, a Sophie Marceau sem aparecer, as páginas em branco sem "literatura" minha, uma constipação, a falta de tempo de leitura, o estado da economia, o Chile, a Madeira e o Haiti, a apatia do blogue, o aniversário por organizar, e com certeza mais "razões" seriam motivos suficientes para um mortal dizer algo como "puta que pariu". Os palavrões existem.
Mas eu, a minha natureza, a minha "doença congénito-espiritual", leva-me a outro patamar: ao do desalento sim, mas um desalento romântico, tipo "puta que pariu" tudo isto que me acontece é maravilhoso apesar de terrível.
No fundo, a sina, o fado, o que acontece, é uma chatice. Mas é uma chatice que me calhou a mim e não a outro. Não, não é uma aceitação resignada nem um encarar de desafio, é apenas o que é. Um nó cego. Alexandre o Grande resolveu bem uma questão parecida.
.

Bloguite

O blogue da Branca desapareceu. O do raper está em vias pelo que ele diz. Este anda moribundo. Deve ser um vírus que anda por aí.
.

Aritmética

De hoje a quinze dias faço 30 anos. Estão todos conviados, todos. Não sei onde, não sei como, mas estão convidados. Dizem-me que pronto 30 são 30. E não é que são mesmo, 30 são 30? As evidências ainda têm muita força. Mas 29 foram 29 e 31 serão 31. As maravilhas da aritmética, só comparáveis com as Pirâmides do Egipto, a Torre dos Clérigos, o Campo da Ervilha e o Empire State Building.
.