a cova


dedicado ao João, Mário, Miguel e André
companheiros de viagem
inspirado numa obra do artista chinês Wang Gongxin exposta no Guggenheim em Bilbao

começou a cavar um buraco, toda a obra de uma vida. cavou até ao impossível. pazada a pazada cada vez mais profundo. tão profundo até o profundo deixar de ser fundo e ser o seu revés. procurou o sonho louco de, no fim da empreitada, encontrar o céu dos antípodas. imaginou o último punhado de terra a revelar o azul celeste do outro hemisfério. conseguiria olhar o céu olhando o chão. cavou como quem cava a sua própria sepultura para que o seu enterro fosse uma queda invertida, uma ascensão pelo solo.
era um poeta.
só a poesia vence a lei da gravidade.

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