Do tempo

Não tiveste nunca a noção do tempo. A percepção de que ele passava era ténue. Continua igual. O sol cai no mar todos os dias, e as gaivotas fazem o mesmo voo ao fim da tarde. Recordas talvez as noites de chuva intensa, com relâmpagos ao longe a despenharem-se no horizonte como cicatrizes celestes. Das manhãs, guardas a sensação do banho das primeiras luzes, dos candeeiros a apagarem-se, dando lugar ao sol. Das tardes tens o peso do seu arrastar por livros e músicas no rádio.
O tempo esvai-se. É um suspiro e já passou. Há muito.
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