tag:blogger.com,1999:blog-36215477386575097732024-03-26T16:48:30.694+00:00a pausa e o silêncioFilipehttp://www.blogger.com/profile/15297576702369139950noreply@blogger.comBlogger867125tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-81043101877841776692024-03-22T00:49:00.001+00:002024-03-22T00:49:12.593+00:00a solidão<div>num dos inúmeros inícios</div><div>quando os primeiros seres se refugiavam em cavernas</div><div>pintavam o universo nas paredes</div><div>tatuavam</div><div>com lama carvão e sangue céus e horizontes</div><div>ardiam em sonho e alucinações todo o real</div><div>nasciam e morriam nesses incêndios dentro dessas mesmas grutas</div><div>nunca de lá de saiam de verdade</div><div><br /></div><div>desconheciam que a morte quando chega</div><div>chega para todos no mesmo exato momento</div><div>que é quando o tempo se esgota e acaba</div><div><br /></div><div>e eram ignorantes de que a única escolha que todos temos</div><div>é a de poder morrer agora ou morrer mais tarde</div><div>não existe outra</div><div><br /></div><div>e de tão solitários serem</div><div>tão abandonados nesses incêndios do espírito</div><div>tão órfãos de deuses e de esperança e de acasos</div><div>descobriam a solidão em todo o seu esplendor</div><div>não tinham a quem rezar</div><div>pois eram eles os deuses e as esperanças e os acasos</div><div><br /></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-24925239085844748192024-02-05T22:50:00.000+00:002024-02-05T22:50:38.755+00:00quiromanteo que pareciam ser vales imensos<div>eram tão só rugas na mão de um gigante</div><div><br /></div><div>por esses desfiladeiros errou o poeta durante mil ocasos e mil auroras</div><div>desbravando madrugadas </div><div>batendo trilhos</div><div>cruzando margens e escalando montes</div><div>teimando por caminhos encarquilhados</div><div>até às falésias derradeiras</div><div><br /></div><div>no fim</div><div>na foz de tudo isso</div><div>na praia do cansaço e da rendição</div><div>já lhe lera a sina inteira</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-65822352677363507932024-01-29T01:34:00.004+00:002024-01-29T01:36:01.486+00:00o acordo tácito da poesiatalvez tenhamos que rever a idade das coisas<div>recontar cada instante de novo</div><div>acautelar instantes que se nos tenham escapado</div><div>e fazer as contas uma vez mais</div><div><br /></div><div>pelos vistos
falta tempo ao tempo para explicar a existência de factos consumados</div><div><br /></div><div>as palavras provavelmente são insuficientes ou limitadas</div><div>e as interpretações ganham vida própria</div><div><br /></div><div>aliás</div><div>aviso</div><div>que cada leitura se faça por sua própria conta e risco</div><div>este é o acordo tácito da poesia</div><div><br /></div><div>não culpem a voz nem lhe deem graças</div><div>os versos ficam órfãos a cada novo silêncio</div><div>são lobos solitários que uivam e uivam até a própria lua não caber mais no céu</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-73515981891186676692024-01-06T15:24:00.005+00:002024-01-06T15:24:58.310+00:00em queencerremos<div>cubramos com um véu ou manto</div><div>este horizonte inalcançável</div><div><br /></div><div>deixemos que se extinga o suspiro do cansaço e do abandono</div><div><br /></div><div>que o mar se estrele em mil sóis e bambeie num ondular sereno</div><div>e que o sono venha aos poucos e de soslaio</div><div><br /></div><div>e que quando chegue</div><div>a memória se esfume no instante exato em que</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-60724285780731655442023-12-14T02:46:00.001+00:002023-12-14T02:46:59.252+00:00pelos versos que escrevo desde sempreé sempre assim<div>no limite da noite<div>naquele momento que passa a instante</div><div>no lugar ligeiramente ébrio das coisas</div><div>é aí que aqui chego</div><div><br /></div><div>e chego inteiro e nu</div><div>despido de tudo e cheio de nadas</div><div><br /></div><div>atabalhoado no explicar do que sinto</div><div>mas sobretudo do que quero dizer</div><div><br /></div><div>mas não quero dizer nada</div><div>sinto somente</div><div>comungo</div><div><br /></div><div>e para ser sincero</div><div>tudo isto
resume-se a uma coisa</div><div><br /></div><div>sinto a tua falta hoje</div><div>porque estás em Paris</div><div><br /></div><div>fico-me pelo teu cheiro na almofada</div><div>e pelos versos que escrevo</div><div><br /></div><div>pelos versos que escrevo desde sempre</div></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-44753491734397152572023-12-08T01:20:00.001+00:002023-12-08T15:19:26.240+00:00tuem tempos demorei-me no teu pronome<div>resvalei por essa silaba em tua busca</div><div>com a sede toda do meu amor por ti</div><div><br /></div><div>disse-o em voz baixa na sala silenciosa da madrugada</div><div>ensaiando uma tua aparição repentina</div><div><br /></div><div>escrevi-o milhares de vezes</div><div>repetindo-o até me doer a mão e o punho</div><div><br /></div><div>quis tatuá-lo discreto no meu corpo</div><div>ele que se me coseu nos lábios e língua e que me incendiou os olhos</div><div><br /></div><div>esse teu pronome</div><div>tão teu que contigo se confunde</div><div>como se já fosses também</div><div><br /></div><div><i>tu</i></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-86462047305947496152023-11-11T19:38:00.006+00:002023-11-11T19:38:46.652+00:00nos silêncios densos da solidãoentão<div>fazes escala entre palavras</div><div>voas nos silêncios densos da solidão</div><div>e aí
quando não há alma que se aviste</div><div>e somente o eco quieto do abandono ecoa</div><div>encontras-te de novo</div><div>e de mãos caídas sobre a noite</div><div>os olhos a vibrar pelo infinito</div><div>mordes esta coisa de estar por aqui</div><div>sangras-te e salivas com o espasmo a percorrer-te o ser</div><div>não podes estar mais vivo nem mais poético do que agora</div><div><br /></div><div>mesmo quando o agora dura um nada</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-40155677395922728852023-10-29T10:21:00.000+00:002023-10-29T10:21:58.529+00:00foi precisoao silêncio do qual nunca saíste<div>chegaste uma noite sem o saberes</div><div>foi numa madruga precisa de solidão em que o teu cansaço venceu e
desmoronou-se num sofá</div><div><br /></div><div>dormiste caído e abandonado pelas sombras</div><div><br /></div><div>o vento louco lá de fora a rasgar a noite</div><div>uma manta imensa de nevoeiro a emudecer a janelas</div><div><br /></div><div>foi preciso uma tempestade e o mar virado do avesso</div><div>para que naufragasses uma vez mais</div><div>dando à costa da quietude</div><div>moribundo</div><div>reencontrado e reencarnado</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-70136963517275452182023-06-30T21:02:00.002+01:002023-06-30T21:25:06.957+01:00Confrade<div style="text-align: justify;">Da gratidão.</div><div style="text-align: justify;">Ao Douro, essa " beleza absoluta", às suas gentes e ao Vinho, ao do Porto em particular, o melhor de todos.</div><div style="text-align: justify;">À família, aos meus.</div><div><div style="text-align: justify;">Ao Amor, a <a href="https://www.instagram.com/maite.weill.steiger/">ela</a> e seu sotaque e seu calor.</div><div style="text-align: justify;">Mas, também e sobretudo, a algumas pessoas concretamente. À <a href="https://www.instagram.com/anitaaviajar/">Ana</a>, ao <a href="https://www.instagram.com/euan.mackay/">Euan</a>, ao <a href="https://www.instagram.com/pedro.f.leite.5/">Pedro</a> e à <a href="https://www.instagram.com/isappmonteiro/">Isabel</a>, primeiros e decisivos mentores no trajeto profissional, que de trabalho passou num instante a paixão.</div><div style="text-align: justify;">À <a href="https://www.instagram.com/symingtonfamilyestates/">Symington</a>, a minha casa.</div></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Por <span style="font-family: inherit;">fim</span>, o brinde como <a href="https://www.instagram.com/confrariavinhodoporto/">Confrade</a>:</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Pelo Vinho do Porto, pela Confraria, pelos Confrades.</div><div style="text-align: justify;">Obrigado.</div><div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQwMwFEU7OkbJj1OICrhk01YPk5k8VRQ256NXSlN7BMz7G1hGJF9JeCBKrnC-8LzQDXFY4HNSL6mExBDlR8dc2JyZFw6aY-Q_aVVGj63-3y94Ky3RrdbQ8i5-zBEpS3OZq1ATOjbSv6X2ThldA4yRomI9aetRn6alPOGeCbCh2-FD0jjTxLRz6lm4ubg0/s1613/Entronizacao-197.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1613" data-original-width="1075" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQwMwFEU7OkbJj1OICrhk01YPk5k8VRQ256NXSlN7BMz7G1hGJF9JeCBKrnC-8LzQDXFY4HNSL6mExBDlR8dc2JyZFw6aY-Q_aVVGj63-3y94Ky3RrdbQ8i5-zBEpS3OZq1ATOjbSv6X2ThldA4yRomI9aetRn6alPOGeCbCh2-FD0jjTxLRz6lm4ubg0/w427-h640/Entronizacao-197.jpg" width="427" /></a></div><br /></div><span style="font-family: inherit;"><i>
Grateful.</i></span><div><span style="font-family: inherit;"><i>To the Douro, that "beleza absoluta", to its people and to the Wine, Port in particular, the best of all.</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>To my family, to my kin.</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>To Love, to her and her accent and her warmth.</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>But, also, to some specific people. To Ana, Euan, Pedro and Isabel, the first and decisive mentors in my professional path. A job turned into passion in an instant.</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>To Symington, my home.</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i><br /></i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>And finally, the toast as a Confrade:</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>For Port Wine, for the Confraternity, for the Confrades.</i></span></div><div><span style="font-family: inherit;"><i>Thank you</i>.</span></div><div><br /></div><i>
De la reconnaissance.</i><div><i>Au Douro, cette "beleza absoluta", à ses habitants et au Vin, au Porto en particulier, le meilleur de tous.</i></div><div><i>À la famille, les miens.</i></div><div><i>À l'Amour, Elle et son accent et sa chaleur.</i></div><div><i>Mais, aussi et surtout, à certaines personnes. À Ana, Euan, Pedro et Isabel, les premiers et décisifs mentors de mon parcours professionnel.Le boulot viré passion en un instant.</i></div><div><i>À Symington, ma maison.</i></div><div><i><br /></i></div><div><i>Et enfin, le toast en tant queConfrade :</i></div><div><i>Pour le Vin de Porto, pour la Confrérie, pour les Confrades.</i></div><div><i>Merci.</i></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-60415613142040928102023-04-26T23:18:00.001+01:002023-04-27T08:08:45.900+01:00reencontropela manhã quando faz sol e é feriado ou domingo<div>noto que as gaivotas gostam de repousar na relva das rotundas pequenas</div><div><br /></div><div>passo e contorno e elas lá estão</div><div>de penas viradas ao centro</div><div>alheias aos carros debicando ervas e feixes de luz</div><div><br /></div><div>até que voam quando regressa o trânsito ou a segunda-feira</div><div>desconhecendo que não passou tempo algum entre o último verso e o primeiro</div><div>que o que brota nem sempre se manifesta em palavras lidas</div><div>que aquilo que não é revelado é tão mais imenso quanto o que acaba por surgir</div><div><br /></div><div>nem tudo o que escrevo é para aqui chamado</div><div>nem sempre é um feriado ou um domingo de manhã</div><div>muitas vezes faz noite</div><div>e é tão densa que por muito que nela entre</div><div>fico à tona</div><div>na borda da madrugada</div><div>observando de fora</div><div>não sei se a espiando se ela me espiando a mim</div><div>queimando a insónia mesmo que dentro do sono</div><div>porque os sonhos são tão reais que queimam os olhos e a mente</div><div><br /></div><div>o que aconteceu até agora</div><div>desde o último silêncio</div><div>foi só uma eternidade que se calou</div><div>ou que se declamou numa das muitas gavetas com cadernos que de tão cheios e inúteis mais sentido fariam se estivessem vazios e mudos</div><div><br /></div><div>enfim</div><div>as rotundas pequenas estão vazias de novo</div><div>as gaivotas voam longe</div><div>e quem sabe</div><div>talvez te reencontres por aqui</div><div><br /></div><div><br /></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-1172858650703985312022-12-13T15:38:00.004+00:002022-12-13T15:38:46.201+00:00perguntaspor onde andam os gestos e suas sombras<div>resvalam eles pelos beirais da rotina</div><div>sorvidos pelo tempo e a apatia?</div><div><br /></div><div>revelam-se numa manhã silenciosa?</div><div>já sendo passado e futuro</div><div>tendo o presente inexistido?</div><div><br /></div><div>são ecos imperceptíveis de algo esquecido e nunca lembrado?</div><div><br /></div><div>serão prescindíveis na eficácia que exige o real?</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-54184709754474383852022-11-16T07:15:00.005+00:002022-11-16T07:15:41.479+00:00rumocaminhar<div>de esquecimento em esquecimento</div><div>até nada lembrar</div><div><br /></div><div>caminhar sempre</div><div>para que a memória desista</div><div>para que o passado se esfume</div><div>e pela frente restar somente o rumo</div><div><br /></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-66082186756493741512022-08-24T15:53:00.000+01:002022-08-24T15:53:48.607+01:00geografias<div>entre cada verso</div><div>o silêncio definitivo</div>vencido uma e outra vez até nos calarmos todos lá longe no infinito<div><br /></div><div>palavra<div>grito</div><div>grunhido</div><div>uivo</div><div>saliva</div><div><br /></div><div>são as geografias da poesia</div><div><br /></div><div>palavra no horizonte calmo da manhã</div><div>grito no zénite da canícula</div><div>grunhido no arrastar da tarde</div><div>uivo no luar quieto da noite</div><div>saliva espessa nos pântanos da madrugada</div></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-82170982896277097262022-08-09T22:44:00.001+01:002022-08-09T22:44:57.876+01:00a tua ilha no meu mar<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJZqpR1Jm2b_aiSTgXMuSZkAPYb_6kGBcwPZr4xEcTY_C5tGFi7rMEm2TtB2_le_b6X4xGVYUtreGXUVHUUfD6sgWovYc1PD7vFHCHEZBm80GVPACN4I9PQComepWowlLpqZq6zHXFn9ZmL-CNWhiIUAzhKsry-7Ys051MhxCrwxybjE-KIgD9eU8m/s4032/Co%CC%81pia%20de%20IMG_8440.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgJZqpR1Jm2b_aiSTgXMuSZkAPYb_6kGBcwPZr4xEcTY_C5tGFi7rMEm2TtB2_le_b6X4xGVYUtreGXUVHUUfD6sgWovYc1PD7vFHCHEZBm80GVPACN4I9PQComepWowlLpqZq6zHXFn9ZmL-CNWhiIUAzhKsry-7Ys051MhxCrwxybjE-KIgD9eU8m/s320/Co%CC%81pia%20de%20IMG_8440.JPG" width="240" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">a tua ilha no meu mar</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">curva num horizonte sem lua</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">erguida como a encosta de um rochedo</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">teu sono e meu velar</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">no silêncio das falésias definitivas</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">meu mergulho adiado</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">preso ao deslumbre por um fio tão fino que me despenho já</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">que me precipito sempre</div>irremediavelmente pendido<div>sorvido pela lei da tua gravidade</div><div>pelo canto do teu sono de sereia</div><div><br /></div><div>a tua ilha no meu mar</div><div>eu submerso de ti</div><div>a dar com a maré baixa da tua praia</div><div>teu marinheiro</div><div>teu náufrago</div><div> <p></p></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-11596262676110247372022-07-27T01:36:00.005+01:002022-07-27T01:36:55.650+01:00cama desfeitaa cama desfeita de hoje<div>que na realidade é da véspera</div><div>e da qual te esqueceste</div><div>virou poema</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-82432998281923624492022-07-26T01:22:00.004+01:002022-07-26T01:22:30.143+01:00prática<div><strike>é simples</strike></div><div><strike>esperar que um pouco de solidão chegue</strike></div><div><strike>(e ela chega sempre)</strike></div><div><strike>ouvir o que te dita a noite</strike></div><div><strike>(é fácil quando o silêncio impera)</strike></div><div><strike>e deixas que se escreva o verso</strike></div><div><strike><br /></strike></div><div><strike>depois relês</strike></div><div><strike>apagas</strike></div><div><strike>e voltas de novo</strike></div><div><strike><br /></strike></div><div>não se apaga um eco</div><div>ele desvai até à quietude</div><div>e o que sobra</div><div>é toda a promessa do futuro</div><div>livre</div><div>limpo</div><div>cheio de ti e do teu sotaque tão teu</div><div>que me inunda até ao jamais</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-91883667380786036652022-07-22T17:11:00.002+01:002022-07-23T00:55:40.132+01:00surrealismamentemove-te pela noite<div>até amanhecer o teu cansaço</div><div>e na praia o vento chamar-te pelo nome secreto com que te batizaste na véspera</div><div><br /></div><div>cai no manto da aurora</div><div>mesmo que a queda não acabe nunca</div><div>e que na vertigem te escapem os sonhos pelos dedos como num quadro de Dali</div><div><br /></div><div>sua todo o ontem que devoraste no raiar do dia</div><div>destila-te além de ti</div><div>esgota-te para que nada reste para os necrófagos</div><div>nem uma única migalha</div><div>nem sequer uma reminiscência</div><div><br /></div><div>sê menos que um triz</div><div>mas que valha a pena</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-18198956053563290332022-07-18T12:16:00.004+01:002022-07-20T11:26:13.613+01:00o espaço é tão tanto e o tempo é tão nenhumdo teu cimo ao teu chão<div>o espaço e o tempo são líquidos</div><div><br /></div><div>porque o olhar percorre tudo isso num vislumbre</div><div>já as minhas mãos demoram-se no caminho</div><div>e a minha boca perde-se no trilho</div><div>seja no calor do teu pescoço ou nos gomos dos teus lábios</div><div>na curva da tua cintura ou no teu ventre de seda e cetim</div><div><br /></div><div>e o espaço é <i>tão tanto</i> e o tempo é <i>tão nenhum</i></div><div>que não me chegam nem os olhos nem as mãos nem a boca</div><div>nem os dias nem as noites e nem as manhãs</div><div>pois és a sede que não se sacia e a fome que não se mata</div><div>a ânsia perpétua e o desassossego infindo</div><div><br /></div><div>és a própria rota</div><div>o rumo essencial</div><div>na sina que me calhou</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-19923041328509801692022-07-14T14:09:00.005+01:002022-07-14T14:09:40.577+01:00arde o próprio ararde o próprio ar<div>por dentro do fôlego e do sopro</div><div>relembrando a fornalha primordial e os grandes incêndios cósmicos</div><div><br /></div><div>transpira-se pelos poros da alma<br /><div>e o suor sem tempo para gotejar evapora-se mal nasce</div></div><div>vaporiza-se no éter ardente</div><div><br /></div><div>tudo é mais lento</div><div>tudo é mais vagaroso</div><div>tudo se adia por um momento até resvalar com o peso de um agora mais longo</div><div><br /></div><div>tudo se arrasta</div><div>os versos derretem na linha do horizonte do poema</div><div>desmaiando no ocaso do que têm para anunciar</div><div>não chegando a extinguir-se</div><div>ficando na letargia infinita da canícula</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-77895486397279014172022-07-07T17:52:00.000+01:002022-07-07T17:52:26.093+01:00também vou sendoo que fazer com isto?<div><div>com este eco primordial a desfocar levemente as coisas quando o olhar se atira ao longe</div></div><div>como uma interferência no ecrã da vida</div><div>um leve estremecer do ser como nas miragens do deserto </div><div>este visco quase invisível a escorrer dos dias e noites e que se cola por dentro e à volta de nós?</div><div><br /></div><div>moldá-lo com a alma?</div><div>domar esse plasma metafísico para que faça sentido saber ao que vem?</div><div><br /></div><div>e ao que vem mesmo?</div><div>dizer-nos que trepida e freme sob a tensão do incomensurável</div><div>que há mais do que aquilo que os sentidos descobrem</div><div>mais tempo dentro do tempo</div><div>mais lugar dentro dos lugares</div><div>mais silêncio na quietude absoluta</div><div>mais versos e palavras e invariavelmente mais poesia?</div><div><br /></div><div>ou virá porque é de sua natureza</div><div>porque é de seu âmago emanar do invisível como um uivo de libertação</div><div>e dizer-nos a nós deste lado</div><div><i>também vou sendo</i></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-29637966434652972172022-07-05T01:11:00.002+01:002022-07-05T01:11:30.543+01:00epílogoalega o teu silêncio<div>dá-lhe o lume brando das velas</div><div>afaga-lhe o calor e o lento passar do tempo</div><div><br /></div><div>escreve-lhe versos</div><div>argumenta a tua solidão</div><div>diz-lhe que são irmãos</div><div><br /></div><div>faz-lhe a vénia devida</div><div>abraça-o nas noites que não acabam</div><div>invoca os infinitos</div><div><br /></div><div>ambos sem verbo</div><div>tu e ele</div><div>no fim disto tudo juntos na aurora</div><div>na manhã definitiva</div><div>no mar luminoso do epílogo</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-37579235144835188252022-07-04T01:12:00.001+01:002022-07-04T01:12:25.802+01:00entre o fado e a mornaentre o fado e a morna<div>procuro o acorde do início<div>bebo sozinho e espio a tua fuga</div><div><br /></div><div>sou guardador de nadas</div><div>de sopros e de sombras</div><div>mestre de coisas que se esfumam</div></div><div>de memórias que não chegaram a ser</div><div>e de sonhos ainda por sonhar</div><div><br /></div><div>entre o fado e a morna</div><div>sigo um funaná</div><div>simulo uma alegria e ao mesmo tempo uma tristeza</div><div><br /></div><div>sou rei da pose</div><div>até cair num canto com a garrafa meia vazia</div><div><br /></div><div>o fado nem aparece</div><div>impõe-se a morna como um bolero da alma</div><div><br /></div><div>ignoram-me os corpos que dançam</div><div>nem sabem que comungo com eles no meu sono ébrio</div><div><br /></div><div>faltam-me os teus caracóis pousados no pescoço</div><div>e a tua curva que balança e me embala</div><div><br /></div><div>fica a noite inteira pela frente</div><div>para que a saudade dance comigo e com a garrafa já vazia</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-16443204893883057832022-06-22T01:01:00.001+01:002022-06-22T01:01:10.615+01:00saboresprovei o silêncio<div>e descobri aí que o suor das noites de verão não sabem ao mesmo que as lágrimas doces do teu rosto</div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-22201140266352102582022-06-18T15:38:00.001+01:002022-06-18T16:13:32.239+01:00um pouco nossas<div style="text-align: right;"><i>para a Ana Filipa e os seus</i></div><div><br /></div><div style="text-align: justify;">são sempre também um pouco nossas</div><div style="text-align: justify;">as avós dos outros</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">e quando uma parte</div><div style="text-align: justify;">parte de novo um pouco da nossa</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">porque os sorrisos abertos e bonitos que tinham eram iguais aos que na infância te embalaram</div><div style="text-align: justify;">porque há um carinho por dentro destas coisas</div><div style="text-align: justify;">como um abraço e um ninho que ficam para sempre</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">faz parte</div><div style="text-align: justify;">sabemos</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">e o que fazer com tudo isto que não seja guardar num cantinho da alma todo esse amor</div><div style="text-align: justify;">e de vez em quando</div><div style="text-align: justify;">numa fotografia ou numa lembrança</div><div style="text-align: justify;">lá voltar e sentir o calor do dia mais luminoso de sempre</div><div><br /></div><div><br /></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3621547738657509773.post-10719034636653600952022-06-17T15:57:00.005+01:002022-06-17T15:57:39.095+01:00nem delas mesmas<div style="text-align: justify;">Revisitar antigos sopros, escutá-los com atenção. Reencontrar as ideias gastas de um outro tu. Iguais, imutáveis, paradas no tempo e no momento exato em que primeiramente apareceram. Como se nunca acabassem de nascer e, ainda assim, sem estarem verdadeiramente vivas. Vagueiam no limbo, são sem serem e vão sendo como as sombras da espuma de uma onda. Acabam e reaparecem sempre.</div><div style="text-align: justify;">Pergunto-me se é possível calar o que não fala ou esconder o que é líquido e neblina.</div><div style="text-align: justify;">Posso sentar-me e escrever tudo isso, de uma vez, de um trago como quando nos lançamos nos abismos. Mas, e depois? Que fazer com o silêncio definitivo? Mas nem é essa a razão, não há nunca silêncio, apenas o ruído atabalhoado do que se sonha. E, é sabido, os sonhos não acabam nunca, apenas o esquecimento os cobre às vezes com o manto da amnésia. Mas eu não esqueço nada do que não escrevo, esse infinito é vasto e incansável. Persiste em revelar-se, teima em resvalar por entre os dias e as noites.</div><div style="text-align: justify;">O óbvio impõe-se, não sou eu que decido estas coisas, as palavras não são minhas, não são de ninguém, nem delas mesmas.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div>Filipehttp://www.blogger.com/profile/05503927224609147538noreply@blogger.com0