dos lumes

existem incêndios que num clarão se consomem
outros que em lumes brandos teimam
como aquele pôr-do-sol que se alonga no ocaso dos dias outonais 

cada chama no seu ritmo
ondulando ao sabor dos ventos secretos das madrugadas
as fagulhas como eternidades condensadas de loucura
faíscas falhadas que esmorecem em fumo mas sem pavio
órfãs de origem
instantâneas como o amor à primeira vista 

li

li poemas sobre as grandes planícies
onde os nobres equídeos do oeste eram desenhados a galope de relâmpagos
onde a solidão era tão imensa que a chuva nem chegava a encontrar chão

li versos sobre as ondas perdidas dos oceanos
tão afastadas de tudo que sem praia onde rebentar não se desfaziam nunca
onde o sonho era tão profundo que quando acordava ainda a noite me naufragava

li palavras sobre os desertos de areia de há mil anos
onde por únicos nómadas grãos de areia se amontoavam em dunas e pirâmides e miragens
onde o sol queimava a pele por dentro e a sede era tal que por uma lágrima que fosse um homem venderia a alma