atravesso silêncios novos de ausência

atravesso silêncios novos de ausência
pensava que os conhecia a todos
mas no jardim das infinitas campas de versos apagados
há sempre mais um segredo que se revela

jazem as palavras que enterrei nos atos indesculpáveis da vaidade
e nos arrependimentos literários que me acometem
são incontáveis as palavras que apaguei e que traí
como também são indizíveis as razões desses crimes e dessas traições
a indignidade de não se dizer uma verdade prevalece perante as ondas do esquecimento

atear ruídos é uma atividade de pirómano lírico
que perante as eternas florestas de poesia
sonha em ver um grande incêndio cujas labaredas engolem nada
para no fim restar somente uma chuva de cinza de poeira e de solidão

sei agora que os regressos são obras inacabadas de toda uma vida
e que o tempo é o mar que nos banha em silêncio

sobram nós górdios por todo o descampado da minha existência
e a espada que empunho tem o peso todo do passado e ferrugem semeada pelo milenar sal do mar

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