Pequena trilogia do nada

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Nada melhor do que uma trilogia para o regresso do silêncio. O sono profundo a que te dedicaste ultimamente tem vencido, dia a dia, a tua apatia perante as palavras. Continuas dedicado ao adiamento de ti. Esse marasmo que conheces desde os inícios, esse morno tédio do escoar do tempo que se adensa como um nevoeiro que não se esfuma nunca.

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No entanto, tudo o que não escreves vai-se acumulando nos lugares secretos do universo. Textos órfãos do indizível. Pernoitam lado a lado com todas as promessas não cumpridas. É sabido que uma promessa que não é cumprida é o primeiro passo para a loucura. Quantos não sucumbiram face aos pactos quebrados com a derradeira honra de cumprir com a palavra dada? Não sei se um poema perdido não será também o princípio de uma queda. Talvez seja impossível vencer o combate contra o esquecimento. Mas, por outro lado, o que importa, se calhar, é, tão somente, o combate em si e o gesto definitivo de se tatuar versos no dorso da quietude. Confrontar esse sangue com o nosso sangue, pensar as feridas e as cicatrizes como testemunhos que ecoam para todo o sempre, qual vestígio de lendas. Isso, saber fabricar um rumor, um suspiro que de ser tão ténue, consegue escapar aos cataclismos incomensuráveis da eternidade.

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Nada.

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