o náufrago

do que vi relembro luares surgirem e luares enevoarem
o sol nascer e o sol a pôr-se
e assim
talvez tudo tenha visto

sei que me sujeito ao comando das insónias e do sono e do amor
que na cama
qual náufrago
procuro sempre terra
que me contento com um toque suave de quente humanidade para me guiar nos sonhos
e que nas noites em que me falta
à deriva fico até o dia se cansar de acordar e comigo dado à costa qual tronco de figueira milenar
abandonado na praia deserta

mais vezes deveria ter eu aberto a janela de frente para o mar
como quem abre a alma inundada de luz
para que um vento de norte sussurrasse os segredos que me faltam e enfim soubesse de que é feito o silêncio