um nada



talvez chova profunda e silenciosamente num lugar longínquo
e poderá ser que o gotejar da água acorde velhos versos adormecidos

as palavras elevam-se ao ritmo de uma planta
possuem a sua própria escala temporal e enraízam-se nos seus próprios ciclos
dão frutos de sabores etéreos cujas sementes caem do céu como cometas em fogo
e noites há em que o firmamento negro rompe-se em rimas livres ecoando no alto da copa das árvores

quando se cala a chuva inicial de inspiração
reina o silêncio
como quando dois corpos se descolam após o amor
faz-se eternidade breve
inalcançável
por instantes sentimos uma vaga muda a balançar ao sabor de um rumor em queda
desvanecendo até ao mais definitivo vazio
um nada

Sem comentários: