ser-se



deve ser lenta a poesia
como um cair de folha outonal
em voo de elipse por entre neblinas e sombras

deve encontrar a voz exacta, o tom certo e o timbre definitivo do silêncio do que é dito

pode cobrir-se de penumbra em lençóis aveludados e espraiar-se ao sol até ser cinza e poeira uma vez mais

e a poesia deve também ser o reverso de tudo isso

deve ser veloz e invisível
explodir numa tempestade e erguer mil sóis nas noites densas de breu e de frios antigos
pode ser combustão instantânea de incêndios e paixões enlouquecidas
pode ser grito estridente ou o uivo derradeiro de lobos sob a maior lua de sempre

a poesia deve ser

deve ser-se

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