o tal silêncio que se diz

trava-se um duelo permanente entre tudo o que escrevo e tudo o que não escrevo
é uma batalha entre o silêncio que se diz e todo o ruído que se estagna em mudez
 
o que escrevo é uma ferida no tecido pantanoso do que vivo, dilacera a aura do tempo e perpetua-se como a incandescência de se olhar o sol de frente
 
o que não escrevo é a cegueira que vem depois e o esgar de uma dor, que de tão forte parece que nem chegou a ser
 
é certo, no fim, vence a quietude e o derradeiro esquecimento das coisas
mas creio que uma palavra, mesmo que derrotada nestas guerras, deixa sempre um eco a ressoar pelo universo
a voz não se cala nunca, mesmo moribunda, mesmo cadáver, fica sempre uma pegada no firmamento e nos solos que pisamos
 
não tenho provas do que afirmo
mas quando olhamos o longe
o horizonte balança sempre ligeiramente
e quando olhamos o céu
as estrelas cintilam também
quero acreditar que é a poesia a versar
a ser o tal silêncio que se diz
algo impossível de não existir

Sem comentários: