dos absolutos



Uma vez mais sorver o privilégio de ir ao Douro. Mil vezes se disse e mil vezes mais se dirá que ali é o lugar da beleza absoluta, expressão cunhada pelo Torga. Escrevi uma vez, no meu atabalhoamento típico, que era a beleza absolutíssima. Agora, refém do limite do que posso escrever mais, ocorre-me apenas o assombro de dizer a beleza absoluta, absoluta, absoluta e poderia ir ao infinito da repetição que cada camada mais seria insuficiente.
Aqui, na eternidade de xisto, cresce vinha e faz-se o mais extraordinário dos vinhos. As cepas são regadas a sangue, suor e lágrimas, gota a gota desde há milénios, e talvez por isso seja tão generoso e fino o mosto. O sol que se derrama vindo a 8 minutos luz de distância, cai sobre a planta e é coada pelas folhas e raízes e, num lento ciclo, em fruta se vai concentrando até ser colhida à mão.
Um rio testemunha tudo isso e há um silêncio que se ouve pelos séculos fora.
Aqui, o milagre é feito de gente, pois pedra se partiu, se rasgou e se acumulou em terraços, vinhas se plantaram em socalcos que se erguem até ao céu.
A beleza absolutamente absoluta.


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