tempestade nos olhos

sempre um lento passar de versos
nas noites que escolhes não escrever

como se as palavras nascessem num canto esquecido
e serpenteassem pelas sombras que cresceram desde o poente

e em ti um silêncio enorme sobre um outro silêncio já velho
mudo na eternidade do teu próprio adiamento

resta-te a lembrança baça do que foi perderes-te num poema
e brotares do outro lado da página
com uma tempestade nos olhos

empate

a planície e nada

e este verso que ouviste ficou
a planície e nada
todo um tratado

o mundo inteiro à frente como uma onda imparável
e no entanto apenas o silêncio a prevalecer
como se no próprio espectro sonoro não existisse espaço suficiente para suster tamanha intensidade
e a mudez se revelasse imprevista

e no desenrolar disto tudo
nas infinitas explosões de vida
o que resta é nada
esse deserto imenso de formas difusas e enevoadas
esse limbo infinito de solidão

a tristeza é o relógio parado que sabemos ser mentira
e no fundo
mesmo no fundo
nas catacumbas da alma
jaz uma árvore despida de folhas cujos frutos nunca brotaram

o marasmo de nós
as promessas por cumprir e as que cumprimos por engano

existe sempre uma luz
mas o breu também vence batalhas

saibamos perder
e mandar tudo à merda
esse gesto não será nunca uma derrota
mesmo não sendo uma vitória

na vida também se empata