a mais obscura revelação da verdade

Voltou o sol e um pouco de calor. Com isso, a luz abraça mais esquinas e recantos. O olhar vai mais além e pode envolver-te em lugares que tinhas esquecido. Relembrar certos afetos faz estremecer a melancolia latente dos sorrisos tímidos. A intimidade de outrora ergue-se até à pele e reencarna na memória. Gestos, cheiros, emoções de um antes revelados tenuemente no agora, no imediato frágil, deixando apenas um travo incompleto do que fora um abraço ou um beijo. Não se finge nada nunca, o fingimento é tão real quanto a honestidade,  por muito que não pareça, são feitos da mesma matéria e nem a arte de mentir ou de enganar é diferente do genuíno e espontâneo amor ou arrebatamento. Vamos sendo em tudo, até mesmo no que fazemos de conta. Na verdade, com o regresso do sol, do calor subtil e toda esta luz, a poesia não deixa de ser a mais obscura revelação da verdade e o amor sua manifestação incontrolável. Amar é mais forte do que nós, como a fome ou outras urgências.

apenas teu

tanto silêncio depois
tempo resvalado para o passado
palavras não escritas no adiamento de seres tu

a mesma velha história de calares
de te esvaíres em sombras no lento correr dos dias
no desvanecer das noites
no derramar sereno das madrugadas
a velha lengalenga do teu abandono perante a escrita

a tua sina
seres o teu silêncio
igual a tantos outros
mas teu
só teu
apenas teu