a criação

incendiaram-se as noites num clarão
atirando sobre o mar negro uma sombra ainda mais vasta
desenhando o fogo prometido o fogo já escrito
a combustão derradeira das almas a supernova esculpida pelo pai de cronos
o aniquilar final de toda a dor inquietação e o seu contrário

não são premonições o que se escreve
não são certezas ou sequer possibilidades
não são ideias não são versos
não são nada

o clarão queimou a noite
semeando cinza por todo o firmamento
derramando as labaredas já faladas as chamas já gravadas
o lume último dos espíritos a explosão estelar atiçada por urano
o funeral de toda a pena angústia e o seu oposto

o ato primeiro
o gesto inicial
o acaso de uma palavra se seguir a outra e assim em diante
até à exaustão das infinitas possibilidades e no meio delas
no tal clarão
surgir poesia
como surgiu a vida nesta terra

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