O porvir

A rua desenha-se em frente como se o asfalto se revelasse aos soluços por entre o nevoeiro. A cada dez passos novo tapete negro malhado de traços brancos sinalizando as regras de trânsito, relembrando-nos a civilização que vamos sendo. Os romanos optaram por pedras, rios petrificados, serpenteando o mundo da altura, brotando de Roma qual nascente parideira e desaguando noutras cidades. Sobram ruinas e cicatrizes, os novos caminhos de alcatrão, como este que se veste de neblina, imitam a função, são ecos desse propósito ancestral do viajante: avançar. Como as palavras que dizemos hoje são palavras que outros já disseram antes de nós.
O nevoeiro há-de esfumar-se e a estrada estender-se-á na plenitude, revelando não apenas distância mas igualmente o futuro. O porvir é o destino ao qual tão somente ainda não chegámos.

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