Lendo

Jorge Luis Borges. Vou lendo, a espaços. Ler poesia exige um silêncio por dentro. Nem sempre o encontro.

Os nossos nadas pouco diferem; é vulgar e fortuita a circunstância de que sejas tu o leitor destes exercícios e eu o seu redator.


(As ruas) São para o solitário uma promessa
porque milhares de almas inquietas as povoam


Às cegas reclama duração a alma arbitrária
quando a tem assegurada em vidas alheias,
quando tu próprio és o espelho e a réplica
dos uqe não atingiram o teu tempo
e outros serão (e são) a tua imortalidade na terra.


quando a luz, como uma trepadeira,
envolve as paredes da sombra

e a noite já gasta
ficou guardada nos olhos dos cegos
 

Céline era um nome que eu já ouvira e lera na boca de outros. Como sempre, caindo numa livraria onde um livro destes ficam por menos de 5 euros não pude resistir. E entrei nesta noite escura, neste relato até agora sarcástico sobre um homem que vive a guerra. Um homem cobarde com medo de morrer, igual a nós portanto.
 

- Arthur, l’amour c’est l’infinie mis à la portée des caniches et j’ai ma dignité moi!
- Arthur, o amor é o infinito posto ao alcance dos caniches e tenho a minha dignidade, eu!
 
On est puceau de l’Horreur comme on l’est de la volupté. Comment aurai-je pu me douter de cette horreur en quittant la place Clichy? Qui aurait pu prévoir avant d’entrer vraiment dans la guerre, tout ce que contenait la sale âme héroïque et fainéante des hommes? À présent, j’étais pris dans cette fuite en masse, vers le meurtre en commun, vers le feu… Ça venait des profondeurs et c’était arrivé.
 
È-se virgem do Horror como se é da sensualidade. Como poderia eu duvidar desse horror quando deixei a Place Clichy? Quem poderia prever antes de entrar na guerra, tudo o que continha a alma heroica suja e preguiçosa dos homens? Agora estava preso nessa fuga em massa em direção ao assassínio em comum e ao fogo… Vinha das profundezas e tinha chegado.
 
C’est des hommes et d’eux seulement qu’il faut avoir peur, toujours.
 
É dos homens e apenas deles que é preciso ter medo, sempre.

 
Dans ce métier d’être tué, faut pas être difficile, faut faire comme si la vie continuait, c’est ça le plus dur, ce menssonge.
Nesta profissão de ser-se morto, não se pode ser complicado, é preciso fazer como se a vida continuasse, é isso o mais duro, essa mentira.

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