Sociedade secreta

Quando escreveste sobre um homem de casaco comprido e de chapéu que te seguia ao longe, adivinhaste-lhe nos bolsos fundos um emaranhado de papéis com versos soltos, sem rima, sem aparente sentido. Sabias que era um daqueles homens que pertencia à oculta organização que se dedicava a escrever sem parar. Queriam recurtar-te pensaste, mas descobriste que afinal apenas procuravam o que já tinhas escrito. Queriam, portanto, as tuas palavras. A razão só a soubeste mais tarde, quando te apanharam e prenderam. Antes de te abandonarem no deserto, com os dedos partidos e a língua arrancada, revelaram o seu segredo: queriam as tuas palavras para as silenciarem. Ficarias assim, sem literatura, sozinho, abandonado numa imensidão de rocha e areia, a sangrar da boca, mudo perante o infinito.
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