o outono

chega o outono primeiro às árvores, diluindo as cores das folhas pingando nos cachecóis que vão aparecendo enrolados nos bósforos dos colos, aconchegados nos casacos há um ano guardados
e chega o outono às almas depois
na melancolia conhecida dos poemas
na ideia de que o adormecer se faz devagar e com vagar ao compasso do vento e do sopro dos ramos que se despem
aos poucos chega o outono em chuva hesitante e em ocasos mais curtos
chega às palavras e aos olhares aos choros e às esperas de sempre
aquelas de não se sabe bem o quê
mas que persistem na teima insondável do tempo
 
é isso
o outono chega e a espera é o seu perfume
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