O homem dos segredos

Os segredos eram o que de mais valioso tinha. Durante toda a vida fez de um provérbio o seu lema: três pessoas podem saber do mesmo segredo se duas delas estiverem mortas. Até hoje conseguira manter as suas discrições à revelia de todos. Fazia-o à custa de um alienamento meticuloso, quase contrariando a máxima de que nenhum homem é uma ilha. Limitava as suas relações ao mínimo possível, mudando de cidade regularmente. Das suas actividades corre o rumor que as ditava em sussurros a um velho gravador de cassetes que logo de seguida destruía. Dizia-se também, em certos círculos, que dormia amordaçado com medo de falar durante o sono e assim revelar o que só ele conhecia. Aqueles que o tentaram seguir, relataram que nunca utilizava o mesmo caminho duas vezes, que nunca repetia o mesmo gesto e que nunca, mas mesmo nunca olhava para trás.
  

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