De repente

Assim de repente. No silêncio de um regresso a casa, cai de uma vez um silêncio maior, esmagando num só golpe almas descansadas e carregadas de futuro. O futuro apagou-se para elas. Fica o nosso, violentamente puxado ao presente, em choque, em luto. A tristeza alagando-me todos os poros. Tlvez um pouco mais do que o costume, por serem de onde eram e por eu, em tempos, ter feito a mesma viagem, com a mesma idade, com o mesmo silêncio de regresso a casa, com a alma descansada e carregada de futuro.

regressou o sol

regressou o sol, espelhado em azul por todo o céu, dizendo coisas à pele, aos olhos e às almas, coisas silenciosamente agradáveis, segredos antigos que o nosso corpo reconhece para além de nós
repousa-se por momentos nesse lençol morno vindo de cima, uma rendição breve à gratidão que todos carregam profundamente mas à qual poucos se entregam totalmente
regressou o sol e tudo está estranhamente igual, mesmo se diferente
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Lendo

Moby Dick jaz, parado, pesado demais neste momento para os meus frágeis braços de leitor preguiçoso. O Medo e o Ofício Cantante, igualmente em silêncio aos meus olhos. O primeiro já mais de meio lido em dois anos de leituras furtivas, o segundo aguarda que lhe caia em cima, pressinto que o devorarei.
Para já ando com os diários de Saramago, um já foi, estou no segundo. Reconheço-o na sua humilde vaidade, nas suas tiradas sábias e nos seus amargos. Um homem com voz e com a habilidade certa para a vozear. Mas um homem, fraco, amargo, agradecido, mal agradecido por vezes também e todos os "etcs" de um diário. Ando também com Kjersti Annesdatter Skomsvold, norueguesa com talento pelo que já li.
Isto é assim, vou lendo, aos poucos o que me calha.
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Hoje sonhei

Hoje sonhei. Se calhar com palavras já escritas por outros, mas o sonho, esse, foi meu. Cavalos em fogo, correndo ao longe. Um fogo de água, deixando para trás um rasto de espuma de ondas. Não sei dizer melhor. Hoje sonhei.
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