Kalashnikovs

- Deixa-me entrar, andam uns gajos atrás de mim!
Estas foram as primeiras palavras que ele disse quando lhe abri a porta. Entrou nervoso e foi sentar-se no sofá.
- Uns gajos? - perguntei.
- Sim pá. Vieram-me dizer lá a casa que uns tipos andam à minha procura de kalashnikovs na mão!
- Kalashnikovs?
- Sim, uns gajos manhosos, com mau aspecto.
- Foda-se, e vens para aqui porquê?
- Pá, porque não tinha para onde ir. E tu tens cara de maluco, se calhar podes dar-me uma ajuda, não?
- Cara de maluco? Qual ajuda qual caralho pá. Gajos de kalashnikovs? Mas tu estás-te a passar ou quê?
Ele calou-se. Percebi que aquilo de eu ter cara de maluco era mesmo a sério.
- Ouve lá, mas quem são os gajos?
- Não sei pá. Eu não tenho entrado em esquemas nem nada. Não percebo.
- Foda-se, de kalashnikovs?
- Sim. De kalashnivokvs.
- E agora? Que queres que eu faça com a minha cara de maluco? Achas que paro balas de metralhadora com o focinho, é? É sempre a mesma merda pá. Cada vez que vens bater à porta vens com cenas à filme pá! Já quando foi a história dos dois irmãos atrofiados que te queriam rebentar as pernas, vieste bater à porta. Passei duas horas a convencê-los que tu és um gajo doente pá!
- Faz-me este favor pá, fala com os gajos.
- Mas que gajos meu? Achas que eu vou falar com gajos de Kalashnikov na mão?... Kalashnikov?
- Sim, kalashnikov.
Era tarde. Tranquei as portas e as janelas. Amanhã logo se via.
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