Mães Natal

As Mães Natal.
Aquele ali, desfocado, poderia ser eu, assim todo aperaltado mas sem jeito, mãos à frente do vulnerável.
Feliz Natal.
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A arte de não esquecer nunca

Percorri a livraria em tua busca. Algo que tivesse os teus olhos ou, pelo menos, uma simulação deles. Sondei a ver se a tua sombra descansava numa qualquer estante. E então aconteceu. Vi-te, de azul, na capa de um livro, o teu nome impresso num fundo branco, ligeiramente subido ao mesmo tempo que tombava. Não sei explicar melhor a não ser que eras tu. Comprei o livro. Será teu. Nosso portanto. E ao afastar-me da livraria já com o livro comigo, soube que estás em muitos sítios para além de ti e de mim, que o mundo te semeou e espalhou pelo seu infinito. Que me aconteça de tudo, menos perder o conhecimento de te encontrar em tudo o que vejo, nem que seja para me doer a saudade. O amor é a arte de não esquecer nunca.

Nó cego

Vamos ouvindo conselhos, alguns que seguimos outros que não. Talvez me faça falta, agora, nesta hora exacta, ter seguido algum dos que não segui. Mas os conselhos não são milagres nem definitivos, tem de haver em nós os pés certos para os seguir. em muitos casos os pés não são os certos, são mancos ou trapalhões, e então tropeça-se ou desiste-se. No fundo, seguimos os conselhos possíveis, pois a impossibilidade é o que rege tudo o que não alcançamos. Faz-se o que se pode, mesmo se teimosamente acedamos que podíamos fazer mais.
Desembrulhem lá isto que eu ceguei o nó.
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O vazio que tens em ti

Já estiveste muitas vezes perante o vazio de uma folha em branco. O terror que provoca não vem desse vazio da folha, vem do vazio que tens em ti para lá meteres. O mundo tem muito silêncio para lá dizeres as tuas palavras, o problema está no sentido contrário, na ausência das tuas palavras, na tua impotência para as descobrir e lá as plantares para calares quer o silêncio da folha quer o teu silêncio. Pressentes que para além do teu próprio atabalhoamento, existe também o medo do que possas ter a dizer. É que sabes agora que isto não é fácil. Ampara-te o conforto de saber que também não teria que ser fácil, mas a verdade é que até agora tinha sido fácil, mesmo nos momentos em que te queixavas no passado. Agora que sabes que é difícil já não é bem queixares-te, é antes bateres com a cabeça e aguentares. É mesmo isso, aguentar, aguentar ao máximo, até esse aguentar se transformar naquilo de que já ouviste falar: resistir. Não será resistir no sentido ideológico e massacrado pelas fés, mas antes no sentido final e eterno da palavra, resistir como homem, como humano e ser individual perante tudo o resto. Isto se o teu corpo ajudar. Se o teu coração não rebentar e a alma se te não verter pelos poros.
Tudo isso só é possível porque sabes que não estás só.
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